LARIZA 4

 

Vem do sudeste paraense uma nova voz que se destaca no cenário da música popular de Belém. Timbre de forte presença, notável fluência em perpassar extremos de dinâmica, afinação precisa, suaves vibratos que se abrem em finais de frases, uso de bend e outros efeitos na colocação vocal que trazem uma certa coloração de blues. São algumas das características do canto de Lariza.

A artista, entretanto, vai além das qualidades vocais. No palco domina a cena com uma eloquente e expressiva interpretação, que revela toda intensidade com a qual se dedica à sua arte. A maioria das canções interpretadas são de sua própria autoria, e nesse caminho Lariza apresenta suas reflexões sobre empoderamento feminino, experiência espiritual, cena urbana, amor, entre outros temas.

Aluna concluinte do Curso Técnico em Música Popular – Canto Popular – da EMUFPA, Lariza é a convidada deste mês da coluna “Eu sou EMUFPA”. Na conversa, Lariza sobejava paixão pelo seu trabalho, estampava gratidão à instituição, às pessoas, à cidade que a acolheu, e por vezes passava as mãos suavemente sobre a mesa enquanto narrava experiências de vida (um gesto característico?).

Seu primeiro EP, recentemente lançado pelo selo Na Music, pode ser acessado em todas as plataformas digitais. Interessou-se por conhecer mais sobre Lariza? Basta segui-las nas redes sociais (ela já tem um número expressivo de seguidores, por sinal) e confirir, na íntegra, toda a entrevista que concedeu para o site da Escola de Música da UFPA.

 


1. Você é uma concluinte do curso de Música Popular da EMUFPA. O que você teria a dizer sobre a experiência de ter sido aluna desta instituição?

Lariza: Primeiro que, antes de entrar na EMUFPA eu não tinha perspectiva nenhuma de estudar música. Eu comecei a cantar recentemente, há 4 anos, aqui em Belém. Não foi na minha cidade, que é Marabá. Eu pensava em me formar em outras coisas da área artística, porque eu tenho também afinidade. Uma amiga me enviou o edital daqui e eu falei: “beleza, me interessa”. Vim de mala e cuia pra Belém. Eu pensei: “se eu passar eu fico, se eu não passar eu volto”. Eu passei. Eu costumo falar muito isso na sala. É uma experiência atravessadora pra mim, em todos os sentidos. Querendo ou não, essa vivência como cantora, pra maioria de nós, é muito intuitiva. Cantar é instintivo. Mas essa perspectiva de se qualificar profissionalmente, essa vivência dentro da academia, modifica muito o nosso olhar dentro do que a gente mesmo faz. Particularmente, ter a professora Joelma como linha de frente no curso de canto popular faz toda a diferença. Porque ela é uma mulher que apresenta uma visão muito ampla sobre o que é isso, de que forma a gente pode usar essa ferramenta, que é o conhecimento. E a escola em si. Claro, é um curso novo, então é um grande laboratório, não só para os alunos, mas também para os professores. Mas eu me sinto muito orgulhosa, porque são muitos pontos que se conectam, e o trabalho como um todo se torna poderoso. Eu sinto que a gente tá saindo daqui realmente com uma formação, não só acadêmica, mas uma formação de pensamento, de consciência, de atuação dentro da sociedade. Nem todo mundo tem essa oportunidade de estar dentro de uma universidade. A EMUFPA me trouxe uma perspectiva muito nova, ampla, forte, sólida, do que eu quero pra mim enquanto artista. Sem ignorar também aquilo que é feito sem aquilo que eu acesso aqui. Quando eu entrei aqui eu tive um pensamento: “O que te fez cantar até aqui? Isso tu não pode perder, todo o resto abre mão.” Porque a gente não pode entrar num lugar cheio de barreiras, de certezas. O que me levou a cantar foi isso, então todo o resto eu tô disposta a modificar, a me deixar ser modificada. Eu acho que esses processos, musicalmente falando, de se cantar, de se descobrir fora da academia, também é vivência, também é conhecimento, é vida. Mas claro que são perspectivas diferentes. Enfim, a EMUFPA mudou totalmente minha perspectiva.

 

2. Lariza, você já cantava profissionalmente antes de vir para cá? Quanto tempo você já tinha de carreira?

Sim, a minha primeira apresentação de fato foi em dezembro de 2014. Eu não morava aqui em Belém. Eu tinha morado por um semestre, neste mesmo ano, e daí fui embora. Voltei pra fazer esse show. Esse ano também foi o ano das minhas primeiras composições. A partir de 2014, eu fiquei nesse trânsito de ir e vir, vinha e ficava um mês, uma semana, dois meses. Nesse meio tempo fiquei vindo cantar aqui e paralelamente cantando em Marabá, quando estava de volta.

 


3. Você indicaria o curso de música popular da EMUFPA a outros músicos e cantores que já estão atuando na cena artística da cidade?

Não só recomendaria como recomendo. Porque é engrandecedor, é alimento, é a gente se expandir naquilo que a gente escolheu como profissão. Mesmo pra quem já é profissional. A maioria de nós aprende como dá pra aprender. Vai e até faz um curso de canto. Tem pessoas que buscam fora da academia. Mas assim, são muitas conexões aqui dentro. É para além do canto em si, é toda essa visão de se refletir música, canto, as referências que a gente recebe aqui, de bibliografia, de músicas de outros lugares, não só do Brasil. Esse ver a dificuldade do outro, perceber junto a evolução um do outro também, é muito precioso também. Eu tô num momento da minha vida que eu não quero me limitar em nenhum aspecto, artisticamente falando. A prática é uma coisa que a gente sempre tem. Música em si é aquilo que a gente tá executando, tá criando, mas o refletir, o alimentar-se para chegar até isso, eu quero. Não só pra mim, mas pra minha ferramenta de atuação ser mais ampla também, porque a gente tá numa sociedade que exige isso. É de muito valor ocupar esse lugar. E é um lugar nosso, é público.



4. Como é fazer um trabalho autoral com tais características na cena cultural de Belém do Pará, hoje? Quais são as dificuldades que você enfrenta, e como busca superá-las?

Antes de falar das dificuldades eu vou falar do que é bom, porque pra mim é o que veio primeiro. Primeiro que é maravilhoso você ter a oportunidade de sentir necessidade de falar coisas e encontrar ferramentas que te possibilitem fazer isso. Principalmente uma ferramenta dessas que é a música, que a gente sabe que ela é direta, não pede licença. É muito bom poder estar aqui, muito bom ter tido a oportunidade de ter saído da minha cidade. É a minha base, mas, infelizmente não me daria a possibilidade de viver o que eu estou vivendo aqui. Belém foi uma cidade que, particularmente, me acolheu de uma forma muito calorosa. O público, os espaços culturais que incentivam, que dão abertura pra todo mundo que está, hoje, investindo em um trabalho autoral. Então, me sinto muito acolhida aqui na cidade pelas pessoas que acompanham meu trabalho. Também foi um lugar de muita descoberta, muito crescimento, o contato também com outros artistas autorais daqui, com a rua, porque eu sou muito ocupante da rua aqui, artisticamente falando, gosto muito de estar onde estão os tambores, onde estão os artistas de vários segmentos, não só da música, mas do teatro, da dança, das artes visuais. Tudo isso é alimento de trabalho pra mim. Belém foi muito calorosa ao me receber. Eu vi uma terra muito fértil pra mim.

Sobre as dificuldades, é engraçado como as pessoas olham, porque muitas pessoas não valorizam o trabalho autoral, mas, aquilo que elas escutam é da autoria de alguém. Uma música não pode se tornar conhecida, se tornar um ícone, se alguém não escrever, não compuser; nasce de algum lugar. É claro que, infelizmente, existe uma série de construção midiática daquilo que a gente deve ouvir, daquilo que chega até a gente, porque tem muita gente fazendo coisa boa hoje, eu admiro muito a nossa geração, porque nós temos a benção de acessar uma série de artistas que vieram antes de nós e que falaram de coisas poderosíssimas e de forma tão brilhante, delicada e profunda. O olhar das pessoas para a música autoral, às vezes, é como se não tivesse o mesmo valor quanto aquilo que já conhece.

Nem todo mundo sai de casa pra assistir um show que nunca viu, com músicas que não conhece. Também vejo um movimento de muitas pessoas que valorizam isso também. Não são todos os espaços que incentivam esse tipo de trabalho, até porque cada lugar tem a sua característica, os seus propósitos e ideais. E geralmente os lugares que abrem as portas para a questão de trabalho autoral aqui na cidade são lugares que resistem muito, em diversos aspectos; até financeiramente, porque não vão ser lugares que vão ter a mesma frequência de pessoas como os lugares que trabalham de outra forma, não só com a música autoral local, mas, com banda cover e tudo, que eu acho que é bem mais disseminado para a massa. Então, eu acho que essa dificuldade vai muito de lidar com esse olhar de que as pessoas têm às vezes, de ser limitado a esse campo de atuação, apesar de que eu vejo um movimento de se expandir, aumentar esses lugares que estão abrindo os olhos pra cena autoral da cidade, que é uma cena muito agitada, tem muita gente, muita banda, fazendo trabalho autoral.

Então é isso, mas são dificuldades que em nenhum momento me desestimulam ou me impedem de fazer o que faço. É claro que existe dificuldade financeira muito grande, porque eu não vivo de música aqui. Eu não vivo. Se eu fosse viver de música eu não sei como estaria, não sei se estaria aqui ainda. Mas, tem outras formas de me manter. A EMUFPA é uma dessas formas; tem a bolsa da Escola, que me permite estar aqui.

Financeiramente é complicado, há uma desvalorização muito grande. E às vezes não só uma desvalorização. Como esses lugares que abrem as portas não são lugares de muita movimentação financeira, eles não têm um valor fixo para dar; geralmente a gente conta com a entrada, às vezes com o que eles podem. Então acho que as dificuldades maiores são essas. Nada que desestimule, mas que alimenta esse movimento que a gente precisa fazer para estar atuando.

 

5. Existem muitos artistas jovens como você, numa luta semelhante à sua, hoje, em Belém? Vocês estão sempre em contato? Buscam discutir estratégias e colaborar com o trabalho um do outro?

Sim. Assim, eu não vejo um movimento de se parar para falar sobre isso. Eu acho que é uma coisa que rola muito nesses nossos encontros mesmo, informais. Inclusive é uma questão interessante.

Não que não existam encontros para se discutir, mas eu acho que é com menos frequência do que poderia acontecer. No entanto, querendo ou não é um organismo em que todo mundo tem que dar uma parte. Nas bandas autorais daqui eu vejo muito essa migração de participação. Tem sido uma coisa bem comum festivais dessas bandas autorais daqui, desses artistas. Tem sido muito bom estar em festivais só com artista autoral daqui. O público comparece. Existe um público forte, sabe? Não tão forte quanto um outro público, mas existe um público firme que segue, que acompanha e valoriza.

 

6. Sobre mídia, vocês encontram apoio de algum meio de comunicação para tocar esse trabalho pra frente? Como é que é em relação a isso?

Olha, o meio que eu mais vejo apoiar, falando de televisão e rádio, é a Cultura. Acho que a  Cultura apoia muito. Existem também muitos blogs. Na cidade existem muitos desses blogs de notícias ligados ao cenário cultural daqui. E esses blogs sempre movimentam, com matérias e entrevistas também. Quando vai rolar show eles anunciam.

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7. Como foi produzir o seu EP, lançado recentemente, quanto tempo levou essa produção e quem foram os seus maiores apoiadores?

Esse EP são as minhas primeiras composições, lá de 2014 e 2015. Foram as músicas dos primeiros shows que eu fiz aqui em Belém. Quem me convidou, na verdade, pra montar esse EP - eu já tinha a pretensão de fazer um EP mas ainda era uma coisa muito fluida pra mim -, foi João Urubu, que é quem fez a produção musical, direção musical, direção artística e foi com ele o meu primeiro show. Nós somos grandes amigos e já fizemos muita música juntos, muitos shows, muitas apresentações. Logo que eu pisei aqui no ano passado ele falou: “Lala, vamo lá no Ná Figueiredo. Eu vou te levar lá, vamos ver se ele apoia tu gravares um EP pelo selo da Ná Music, que é o selo dele”. Eu falei: “Vamos lá”. Fomos lá eu, ele e um violão. Chegamos e conversamos com o Ná Figueiredo sobre o EP. João falou: “Olha, essa é a Lariza, ela tem um trabalho autoral aqui em Belém e veio morar aqui agora esse ano”. Daí nos conhecemos e eu cantei uma música pra ele, “Me deixa amor”, que inclusive está no EP. Ele falou: “Beleza, vamos gravar”.  O Ná tem uma parceria com estúdio Z, do Thiago Albuquerque, que inclusive é filho do Albery Albuquerque; eles dois têm um trabalho fantástico juntos de pesquisa musical e pesquisa sonora amazônica. O grande primeiro apoiador desse EP foi o Ná Figueiredo, que nos cedeu um estúdio com o tempo que a gente precisasse pra gravar o EP. Levou um tempo para a gente entrar. A gente fechou em janeiro com ele e começamos a gravar o EP em outubro, mas foi bom porque foi o tempo que a gente levou pra preparar o trabalho, amadurecer e criar os arranjos. Os arranjos base da música a gente já tinha, mas é essa coisa de “ah, quais instrumentos e como é que vai ser esse EP”... Esse pensamento da produção musical mesmo que eu e João fomos construindo. Então o primeiro grande apoiador do EP é o Ná, com certeza, mesmo. Foi muito maravilhoso. Na verdade ele é um grande produtor cultural aqui em Belém. Ele dá essa oportunidade para muitos artistas. Vários já gravaram com o apoio dele.

 

8. Sobre o prêmio de incentivo à cultura recebido em um Edital da Fundação Tancredo Neves, o recurso foi para a produção do EP?

Sim. O EP já estava gravado, gravamos tudo, as pessoas que toparam gravar, toparam assim: “Olha, gente, vamos fazer; não tenho dinheiro hoje, mas em algum momento eu vou pagar vocês, de algum jeito”. Então foi todo mundo, identidade visual, músicos, tudo. Aí surgiu o Edital da Fundação Cultural Tancredo Neves. Eu inscrevi o meu projeto com o intuito de pagar todo mundo que trabalhou no EP, prensar 500 cópias do CD e fazer um show de lançamento, que aconteceu dia 15 de setembro. Então, na verdade, a Fundação não proporcionou que eu gravasse o CD, mas que eu circulasse, digamos assim, e também pagasse as pessoas que trabalharam e se envolveram com o esse trabalho. E claro que eu não vou nem colocar em cheque a importância desse prêmio. É um prêmio importante para essa instituição, para a cidade, para os artistas que recebem. Eu acho que é uma ferramenta que possibilita a gente pagar realmente, porque querendo ou não, se precisa de dinheiro para fazer as coisas. Então, ter recebido esse prêmio pra mim foi maravilhoso. Receber um prêmio com pouco tempo de carreira, pouco tempo de música, foi bom demais. Pude fazer esse show, pagar essas pessoas, circular esse trabalho.

 

9. Quais sugestões que você daria a outros jovens artistas que ainda estão iniciando a carreira, ou pretendem iniciar, com música autoral?

A primeira sugestão que eu dou é de acreditar naquilo que tá fazendo, acreditar não só sentimentalmente, mas energeticamente, fisicamente, se movimentar para isso, porque já há barreiras, já é complicado. Se não houver movimento para consolidar esse trabalho é muito complicado. Por isso que muitas bandas desistem, muitos grupos se desfazem; porque, é claro que cada caso é um caso, mas eu acho que é muito da forma como a gente alimenta o nosso trabalho. E, assim, uma coisa que foi crucial pra mim, depois desse primeiro ponto foi: pessoas. Quem são essas pessoas que estão sonhando e construindo juntos? Eu, a minha vivência é de que cada pessoa descobre as coisas de um jeito, mas a minha foi de sintonia mesmo, de ver essas pessoas chegando, de me escutar, de perceber que de forma essas pessoas veem o meu trabalho, que forma que elas interagem com aquilo que eu faço, de que forma elas recebem, sabe? Eu acho que as pessoas que vão estar alimentando esse trabalho são uma ferramenta crucial para esse trabalho acontecer. Por exemplo, se fosse só eu, nada disso estaria acontecendo, nada disso seria capaz. Se fosse só eu, com as minhas músicas, com o meu trabalho, preciso de pessoas que estejam sintonizadas com aquilo que eu acredito, com aquilo que eu alimento. Então, pessoas que estejam na mesma sintonia, na mesma vibração, isso é muito importante para qualquer trabalho, sabe, dar certo.

 

10. Então buscar parceiros, na verdade, é uma coisa muito importante quando você é um artista iniciante...

Totalmente, principalmente quando é independente, porque você não vai ter muito recurso. Você vai contar com parcerias, com pessoas que apoiam e entendem, até mesmo essa visão do nosso próprio trabalho musical. Eu acho que tem que existir de nós uma pesquisa do que realmente a gente tá fazendo musicalmente, para que não venha qualquer pessoa e modifique o teu trabalho e diga “Ah, não. Isso não tá bom”. Eu acho que não é também se fechar. Não é desse jeito, mas eu acho que é a gente estar consciente daquilo que a gente tá produzindo musicalmente. O que me toca, o que me afeta, o que faz sentido pra mim. Isso foi um ponto muito forte durante as gravações do EP, porque tinha coisas que não estavam fazendo sentido pra mim, e eu não tinha problema nenhum em refazer quantas vezes fossem necessárias. Isso é uma questão minha, né? Não se perder daquilo que a gente sente musicalmente, daquilo que a gente crê que pode estar criando, daquilo que é o que a gente tem a dizer, porque esse lugar de música autoral é um lugar de muitas possibilidades, é um lugar de criação, é um campo aberto, sabe? De palavra, de música, então, precisa se sintonizar com aquilo que a gente acredita, quais são as nossas mensagens, elas têm sintonia com aquilo que eu quero realmente passar? São essas reflexões mais subjetivas, também, de se trabalhar com música autoral, e se alegrar com o que faz, para que não se torne automático, para que não se torne um fardo, uma coisa que Belém me trouxe muito de estar aqui longe da minha família, eu escolhi estar aqui, não tem ninguém me obrigando a estar aqui. Então, louvar cada momento, cada conquista, cada problema, porque existe dualidade em tudo. Nada vai ser só bom, nada vai ser só ruim; é uma gama de coisas que acontecem, sabe? Então, abraçar com amor, com fé, com alegria, as coisas que a gente escolhe e entender que só o fato de poder escolher já é muito. É maravilhoso poder escolher; então, louvar o seu trabalho, alimentar com positividade, com pessoas que vibram o positivo ao redor.

 

Créditos das imagens

Fotos do EP: Estúdio Tereza e Aryanne

Fotos de show: Liliane Moreira

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